sexta-feira, 12 de março de 2021

A Minha carta carta de Jacques de Moley

Jacques de Molay (1242- 1314) Uma recente descoberta de Beatriz Canellas, chefe do Departamento de Descrição do ACA, permitiu localizar uma carta, inédita, dirigida por Jacques de Molay, mestre geral da ordem do Templo, a Ramon de Bell-lloc, comendador da dita ordem, a 21 de janeiro de 1296. Molay foi o último grão-mestre da milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão e foi condenado a ser queimado na fogueira na ilha dos Judeus, em Paris em março de 1314, durante o processo ordenado pelo papa Clemente V e o rei de França Felipe IV O Formoso, contra os Templários. A Ordem do Templo tinha nascido no Concílio de Troyes de 1129 com a finalidade de acompanhar e proteger os peregrinos em Jerusalém, durante as cruzadas. Com a perda de São João de Acre em 1291 a Ordem vê-se imersa na luta de poder entre o papado e a coroa de França. Esta luta será fatal para os templários, já que a 13 de março de 1312, o papa, sob cuja proteção se encontrava hierarquicamente a Ordem, assina o decreto de dissolução por delitos de heresia. Após ter-se propagado por França, o reino latino de Jerusalém, a Coroa de Aragão, a Coroa castelhana e leonesa, Portugal, Inglaterra, Escócia e os reinos germânicos, a Ordem foi liquidada e os seus bens confiscados. A carta que apresentamos inscreve-se nos preparativos da viagem do novo grão-mestre do Templo, que havia acedido ao magistério nalgum momento entre 1292 e 1293, quando a morte do mestre Thibaud Gaudin a 16 de abril de 1292, em Chipre, devido a uma estratégia de intento de recuperação do reino de Jerusalém após o desastre de Acre. A carta Este documento está inserido num processo judicial da Real Chancelaria (ACA, Cancillería, Procesos en folio, legajo 2, núm. 4) relativo ao pleito junto da Cúria real pelo conflito territorial entre os templários de Miravet e Berenguer de Entenza entre 1288 e 1293. O documento, em papel (105x305 mm.), estava originariamente solto e hoje está colado no último caderno. Conserva-se relativamente em bom estado; apresenta as cinco dobras e quarenta por cento do selo de cera preta que o fechava e validava e que se partiu precisamente quando o destinatário abriu a carta. Os restos do selo, que originalmente deviam medir 30 mm aproximadamente, permitem distinguir a palavra “MILITV” na parte inferior da legenda (“[+SIGILLVM :] MILITV[M : XPISTI]”) assim como os cascos e o ventre de um cavalo e uma cruz grega no campo. No entanto, a carta original não é autógrafa do mestre. Deve de a ter escrito um secretário ao serviço de Molay, um francês pelo tipo de grafia do documento, similar a muitos pergaminhos com origem em França que se conservam no ACA. O caderno onde se insere o documento contém cópias de cartas de 1288 a 1294. É precedido pelo registo de vários salvo-condutos assinados por Jaime II para os assistentes ao capítulo geral da Ordem em Montpellier, a 9 de agosto de 1293. O documento que está antes da carta é a Ordem aos seus oficiais para não impedirem a passagem de Jacques de Molay pelos seus territórios e está datado em Tarazona a 24 de agosto de 1293 (registado no ACA, Cancillería, Registros, núm. 98, fol. 275v) coincidindo, provavelmente, com a viajem que o mestre tinha previsto realizar para se reunir com o rei de Aragão e tratar o conflito pela cessão de Tortosa. O ACA conserva outro salvo-conduto em nome de Molay datado de 3 de julho de 1294 (ACA, Cancillería, Registros, núm. 99, fol. 264r). Com o número 18 do tomo III da Ata Aragonensia o grande historiador alemão Heinrich Finke (1855-1938) recolhe uma carta do mestre enviada a Pere de Sant Just, comendador de Granyena, datada em Roma a 21 de janeiro (que Finke situa com alguma dúvida, no ano 1295 e que o historiador francês Alain Demurger atrasa de um ano, (1296), data da passagem de Molay em Chipre; assunto de que fala a missiva). O texto desta carta é praticamente idêntico ao da missiva que aqui comentamos. Nela informa sobre a sua intenção de passar por Chipre, de acordo com o papa, fixando para isso a data de 24 de junho, festividade de São João Batista. Antes quer reunir o capítulo geral em Arles (consultado a 7 de novembro de 2014), embora a expressão literal do lugar não tenha convencido Finke. O capítulo teve lugar efetivamente a 15 de agosto de 1296, de modo que, finalmente, a viagem a Oriente atrasou-se até ao outono. Importância histórica Não pudemos localizar qualquer autor que cite esta missiva a Bell-lloc, em todos os pontos coincidindo com a carta que enviou a 21 de janeiro de 1296 a Pere de Sant Just, editada por Finke e datada por Demurger. Pere de Sant Just, diz este último autor, foi amigo de Molay. E Bell-lloc? Sant Just era comendador de Grañena quando lhe entregaram a carta (o historiador britânico Alan Forey pensa que não houve comendador em Grañena entre agosto de 1294 e julho de 1297 e situa Sant Just como comendador nalgum momento entre 1301 e 1307). Bell-lloc era comendador de Ascó em abril de 1296. Talvez não seja aventurado indicar que deviam existir mais algumas cartas dirigidas a outros comendadores com a intenção de os informar da sua viagem a Oriente e pedir-lhes a correspondente ajuda para as suas encomendas. Nesse caso a importância da carta conservada no ACA reside na sua singularidade e porque é a confirmação de que Jacques de Molay começou a preparar a sua ida a Oriente com a intenção de recuperar os Santos Lugares recolhendo ajuda das encomendas ocidentais. Na sua viagem por Europa, de 1293 a 1296 tinha conseguido de Jaime II, entre outros monarcas, o direito das encomendas templárias dos seus reinos, podendo enviar livremente para Oriente mantimentos, armas, cavalos e dinheiro. E é precisamente o terço de rendas com que contribuíam as encomendas aos esforços bélicos da Ordem, o que ele pede a Ramon de Bell-lloc na carta aqui apresentada. Esta carta é uma mais do pequeno número das cartas de Jacques de Molay, (algo mais de uma vintena entre vários arquivos europeus (20 no ACA, 3 nos Arquivos Vaticanos, 2 na Public Records Office de Londres e 1 no Arquivo Histórico Nacional de Madrid)). Até agora, o ACA conservava dezanove originais e um inserto; vinte a partir deste achado. Transcrição da cartaEnlace externo, se abre en ventana nueva PDF Bibliografia Enlace externo, se abre en ventana nuevaPDF Acesso a PARESEnlace externo, se abre en ventana nueva Link externo © Ministerio de Cultura y Deporte - Gobierno de EspañaMapa Web Accesibilidad Aviso Legal Logotipo W3C/WAI doble A (WCAG 1.0). Abre en ventana nuevaEnlace externo, se abre en ventana nuevaEnlace externo, se abre en ventana nueva Esta web utiliza cookies propias para facilitar Área de anexos

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